Compartilhe esse artigo:

Da Polônia para o mundo: saiba como The Witcher virou um fenômeno pop

Se falarmos o nome “The Witcher”, há boas chances de você associar à série de games ou, ainda, à série produzida pela Netflix que estreou em dezembro de 2019 e recebe sua segunda temporada dois anos depois. O que poucos sabem, porém, é que as aventuras do bruxo Geralt de Rívia não começaram em nenhuma dessas mídias. E que, na verdade, The Witcher passa longe de ser uma obra recente.

Falar da origem da franquia nos leva a uma viagem no tempo de mais de 30 anos. Para sermos exatos, 1986: foi neste ano que o polonês Andrzej Sapkowski fez sua estreia como autor ao inscrever uma história curta em uma competição promovida pela revista “nerd” Fantastyka.

A obra tem como protagonista Geralt de Rívia, um bruxo que ganha a vida como caçador de recompensas – o que, geralmente, envolve matar monstros. A questão é que isso acontece em um continente sem nome, mas com histórico de muitas guerras por poder.

A situação piorou consideravelmente quando os humanos chegaram e dominaram o local que era habitado por elfos, gnomos e anões, oprimindo e relegando esses povos a cidadãos de segunda classe. Fora isso, há uma disputa intensa por poder envolvendo os impérios humanos. Ou seja: um cenário perfeito para o caos.

O sucesso foi imediato e, diante do pedido dos leitores, Sapkowski escreveu mais 14 histórias nesse universo. Pronto: The Witcher começava aí a se tornar um dos maiores sucessos da literatura polonesa e, pouco tempo depois, ganharia o mundo.

 

Com sua obra cada vez mais ganhando corpo, a produção se expandiu. Em 1994, Sapkowski começou uma série de livros. O autor escreveu cinco deles, entre 1994 e 1999. A parte curiosa é que foi praticamente uma obra por ano e apenas 1998 passou em branco.

Foram eles, com seus títulos em inglês: Blood of Elves (1994), Time of Contempt (1995), Baptism of Fire (1996), The Tower of the Swallow (1997) e The Lady of the Lake (1999).

Além da série principal, Sapkowski também escreveu mais histórias curtas e, em 2013, lançou mais um livro, Season of Storms, que se passa no intervalo de duas das histórias curtas iniciais de The Witcher.

Perfeito para adaptações

A natureza fantástica, com histórias intrincadas e passagens de ação fazem de The Witcher uma obra com muito potencial para adaptações. A primeira delas ocorreu entre 1993 e 1995, na forma de histórias em quadrinhos. Foram lançados seis volumes, todos baseados em histórias curtas da franquia.

Anos depois, foi a vez de Geralt e companhia ganharem as telas dos cinemas, com o filme The Hexer, em 2001. No ano seguinte, foi a vez de uma série homônima com 13 episódios ser lançada na TV polonesa.

Ambas as obras foram dirigidas por Marek Brodzki e têm uma vaga inspiração na obra original. Tanto o filme quanto a série receberam duras críticas na ocasião, sendo que o próprio Sapkowski foi bem taxativo ao dizer que poderia descrever essas adaptações “com uma simples palavra obscena”. E sobre o nome, ele apenas seguia as primeiras traduções do original para o inglês – “hexer” quer dizer “feiticeiro”.

Também em 2001, a franquia ganhou um jogo de tabuleiro e, em 2007, um jogo de cartas.

Faltava algo, porém, que colocasse The Witcher de vez no mainstream. E esse “algo” veio também em 2007.

Nasce uma lenda

Já famosa em sua terra natal, a franquia The Witcher deu seu principal passo internacional com o lançamento do game de mesmo nome. Isso, porém, poderia ter acontecido dez anos antes, já que a Metropolis Software trabalhou em um título inspirado pela saga de Geralt, porém ele acabou cancelado.

Em 2003, a desenvolvedora CD Projekt Red negociou os direitos da obra com Sapkowski e, quatro anos depois, The Witcher, um RPG de ação, chegava exclusivamente para os PCs.

O game recebeu boas notas e tinha uma história totalmente inédita e criada pelo estúdio de desenvolvimento, não por Sapkowski.

A sequência direta veio em 2011, com The Witcher 2: Assassins of Kings, que teve versões para PC e Xbox 360. Novamente com uma trama inédita, ele seguia os acontecimentos do primeiro jogo e trazia novidades, como diálogos que podem seguir caminhos distintos e 16 finais diferentes. Foi bem recebido e marcou uma evolução em relação à estreia da série.

Os dois primeiros jogos, porém, sequer chegaram perto do sucesso do terceiro, que chegou em 2015.

Frequentemente colocado como um dos melhores games de todos os tempos, The Witcher 3: Wild Hunt segue a lógica dos seus antecessores, trazendo uma história inédita. Também foi o primeiro game da franquia a ser lançado para todas as plataformas disponíveis.

Trata-se de um game grandioso, que levou quatro anos para ficar pronto. O estilo permanece o mesmo, como um RPG de ação, porém tudo é maior e melhor. O título também ganhou duas expansões, que ampliam consideravelmente a experiência, e foi eleito o melhor jogo do ano em 2015. E também rendeu dois outros games, Gwent: The Witcher Card Game e Thronebreaker: The Witcher Tales, ambos baseados em um minigame de cartas presentes em The Witcher 3: Wild Hunt.

O sucesso, claro, se traduziu em números de vendas: até maio de 2020, foram mais de 50 milhões de cópias vendidas, sendo que pelo menos 30 milhões delas foram de The Witcher 3: Wild Hunt.

Agora um fato curioso: quanto topou o licenciamento dos direitos de The Witcher para a criação de série de games, Sapkowski não esperava que ela fosse fazer tanto sucesso e optou por fazer o acordo com a desenvolvedora pagando uma determinada quantia para usar o nome da obra como desejado.

Vendo que tinha feito um mal negócio, o criador da obra enviou em 2018 uma notificação para a CD Projekt Red exigindo o pagamento de cerca de US$ 15 milhões, que seria o correspondente a algo entre 5% e 15% das vendas dos jogos até aquele momento.

Após uma negociação, a produtora fez um acordo com o autor, ainda que por um valor menor do que o pedido inicialmente. E também ficou acertado entre as partes a manutenção de um relacionamento para projetos futuros envolvendo a obra.

Conquistando o mundo

 

Se os games deram um tremendo pontapé para lançar The Witcher de vez no mundo, a série da Netflix consolidou a obra como um fenômeno pop.

Estrelada por Henry Cavill, a série não segue exatamente a trama de algum dos livros ou dos games, mas usa todas as obras existentes como base. Trata-se, portanto, de uma adaptação bastante fiel aos materiais originais.

O resultado disso é que a produção foi bem recebida por críticos e por público, com números de audiência disputando espaço com uma dupla de peso: Stranger Things e The Mandalorian.

Tirando a série da Netflix, porém, não há quaisquer planos para novidades envolvendo The Witcher, seja nos livros, nos quadrinhos ou nos games.

Isso, claro, não impede os fãs da franquia de ampliarem a sua coleção de artigos relacionados. E, como todo fenômeno da cultura pop, há diversas opções para isso, já que a obra rendeu uma bela coleção de Funkos, há várias opções de estátuas e figuras de ação, além de itens de vestuário e produtos como canecas, chaveiros etc.